Diário de Gênero na Comissão “Global Feminisms and the Queer” da IAUES

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> Momento da votação da comissão na Assembléia Geral da IAUES. Foto: Assim Basiri.

Estou no Canadá para uma viagem de trabalho. Participei da Inter-Conferência da IAUES – International Union of Anthropological and Ethnological Sciences, instituição mundial que coloca em diálogo antropólogas e antropólogos de todo o mundo com a missão de congregar cientistas que se engajam no estudo da humanidade. Os Inter-Congress acontecem nos períodos entre os congressos mundiais da instituição, sendo que o próximo será em Florianópolis, ou seja, pela primeira vez em mais de 50 anos (a IAUES foi criada em 1948) será realizado na América Latina sob a coordenação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

A participação da delegação brasileira no Inter-Congress foi grande, totalizando cerca de 35 pesquisadores de todo o Brasil. Se não me engano, de fora dos países do Norte Global, só éramos menores que a Índia. Várias e vários de nós brasileiras e brasileiros nos reuníamos quase diariamente no Hall do prédio de Ciências Sociais da Universidade de Ottawa, que acolheu o encontro juntamente com a CASCA – Associação Canadense de Antropologia. Nesses momentos de intervalos dedicávamos nossas conversas às políticas mundiais da Antropologia e principalmente discutíamos o lugar da antropologia brasileira no cenário global.

Sou sócio da IAUES desde 2014. A associação me foi sugerida pela antropóloga Miriam Grossi, que será a coordenadora geral do evento mundial no Brasil. Em nossas discussões ao longo dos últimos anos Miriam sempre falava da necessidade de uma comissão interna à IAUES sobre gênero e sexualidade. Como sabemos a história do feminismo intelectual e particularmente da antropologia feminista se iniciou com o foco na categoria sociológica “mulher”, tendo posteriormente ampliado seu campo conceitual, particularmente a partir das reflexões sobre gênero e poder. Nesse sentido a antropóloga chinesa Wu Ga coordena a comissão “Antropologia da Mulher”, que dedica seus trabalhos à temática exclusiva das mulheres. Me filiei a essa comissão. Entretanto, via articulação de antropólogas feministas de todo o mundo, decidimos criar uma nova comissão específica sobre Gênero e Sexualidades.

Com a antropóloga iraniana Nasim Basiri, que faz uma etnografia sobre a diáspora armênia no Irã e que tem refletido sobre os crimes de guerra contra mulheres armênias e o caráter sexista das guerras, propusemos a comissão “Global Feminisms and the Queer” em que ela será a coordenadora e eu o vice-coordenador. A proposta da comissão foi aprovada por aclamação pela Assembléia Geral da IAUES (Foto) e validada pela presidenta da IAUES, Faye Venetia Harrison.

A comissão oferecerá uma plataforma de engajamento para análises críticas sobre globalização, neoliberalismo, desenvolvimento, dinâmicas sociopolíticas de gênero que são muitas vezes negligenciadas nas instituições de pesquisa. A comissão também procurará consolidar vozes de todo o mundo que têm sido marginalizadas nos diferentes níveis a despeito de sua habilidade para contribuir na produção de conhecimento científico, incluindo seus modelos alternativos de teorização que foram inviabilizados. A comissão terá representantes de várias partes do mundo que trabalharão juntas e juntos na superação de problemas contemporâneos como a homofobia, o heterosexismo, a transfobia, os crimes de ódio, a violência sexual e de gênero e outras formas de opressão.

Nesse sentido anuncio nessa coluna em primeira mão a criação de nossa comissão e conto com o apoio de antropólogas e antropólogos engajadas/os em pesquisas sobre gênero e sexualidades. Além disso, sugiro que estejamos em peso no congresso mundial em Florianópolis onde poderemos mostrar para o mundo a excelência de nossas pesquisas e ações de extensão, num diálogo frutífero entre diferentes escolas do pensamento antropológico, clássicas e contemporâneas, hegemônicas e decoloniais.

Texto: Prof. Dr. Felipe Bruno Martins Fernandes | Professor do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da UFBA e Coordenador do GIRA.

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