“Até agora, ninguém falou comigo”, afirma funcionária da prefeitura vítima de intolerância religiosa

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Foto: Divulgação

Desde que foi iniciada no Candomblé, a funcionária terceirizada da Secretaria Municipal de Gestão (Semge) Silvana Silva da Paixão, de 41 anos, vem sofrendo uma série de constrangimentos por causa da sua religião. Ela conta que é humilhada e até ameaçada por ocupantes de cargos superiores pela sua roupa e jeito de comer.

O caso veio à tona nesta terça-feira (23), após ela ter feito denúncias, divulgadas pela mídia. Mas, mesmo após a exposição das situações, a vítima conta que não foi contatada pela secretaria, nem pelos autores dos ataques contra ela. “Ninguém até agora falou comigo para nada. Eles não me chamaram e nenhuma ação foi tomada”, afirmou. Questionada se recebeu algum tipo de apoio por parte dos seus colegas, ela também negou. “Não porque envolve o chefe. Ninguém quer se meter”, explicou.

Segundo o Metro 1, o órgão esclareceu que “os fatos já estão sendo apurados, com a colaboração da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), para adoção de medidas cabíveis”. A pasta também informou que “repudia atos de discriminação de qualquer natureza e vai agir no sentido de combater esse tipo de situação, garantindo o respeito no ambiente de trabalho e na prestação de serviços à população”.

O caso

Depois que voltou de férias, no dia 8 de setembro, quando passou um mês recolhida no terreiro para “fazer o santo”, ou seja, ser iniciada no Candomblé, religião de matriz africana, Silvana conta que os ataques começaram. “Fizeram descaso da minha roupa, não aceitavam as minhas vestes brancas. Passo por constrangimentos diários, me chamam de macumbeira, fazem piadinhas. No refeitório ficam falando da minha alimentação porque como sou Ìyàwó [como são designados no Candomblé os filhos de santo iniciados há menos de 7 anos], como de colher em um prato que chama ‘longá’”, relatou.

A vítima também contou que o coordenador do seu departamento a ameaçou por questõs que envolvem a sua religião. Ela teve uma alergia no rosto e ele a mandou ir ao médico, mas no Candomblé os recém-iniciados, ainda com o “corpo aberto”, devem pedir autorização à mãe de santo para ir a certos lugares. Como não conseguiu falar com a responsável, decidiu se cuidar em casa.

Após explicar a situação ao coordenador e deixar claro que ele não precisaria abonar o dia que utilizou para cuidar da sua saúde, ele respondeu que se ela for demitida “a mãe de santo não vai colocar comida na sua mesa”. O homem também citou questões da vida pessoal de Silvana, falando da sua filha de 22 anos, que vive com deficiência.

“Isso tudo foi em tom de ameaça. Ninguém antes me tratava assim”, lamentou. A funcionária terceirizada trabalha na na Semge há 10 anos como mensageira.

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